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sábado, 20 de julho de 2013

HELENA de Machado de Assis


HELENA 
De Machado de Assis 
Resumo de Nicéas Romeo Zanchett 
Helena é um dos melhores livros do nosso grande escritor Machado de Assis, na sua primeira fase de feição romântica, e por ele mesmo é um livro particularmente prezado. 
De todos os do autor, é o que mais se presta a um resumo. Algo romanesco, na opinião do próprio Machado de Assis, tem força de mocidade, tem vida e muita arte de composição e de análise. 
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                     Ao morrer, deixou o conselheiro Valle, já viúvo, dois únicos parentes, um filho, Estácio, de 27 anos e engenheiro, e uma irmã solteira, D. Úrsula, de 50 e poucos anos, e que sempre vivera em sua companhia. Mas o testamento do conselheiro revelou a existência de uma outra filha, Helena, que ele reconhecia como herdeira de uma parte dos seus bens e que devia passar a viver com a família, a quem recomendava que a tratasse com desvelo e carinho. Helena estava, na ocasião, estudando num colégio de Botafogo - RJ. Tinha 17 anos. Semanas depois concluía os estudos; e D. Úrsula foi buscá-la. Não aceitava de boa mente essa incumbência, mas foi fazer o que devia. A moça, não obstante a consanguinidade agora conhecida, era de todo estranha à família. D. Úrsula, no seu íntimo,  reprovava a resolução do conselheiro; ao seu parecer bastava, como generosidade paterna, a parte do legado; era excessivo deixar-lhe também a coparticipação do afeto. Acompanhava-a nesse sentimento, e ainda com maior restrição, um velho amigo da família, o Dr. Camargo; entre as razões que o moviam, a mais forte e calada era o egoísmo de pai; tinha uma filha única, Eugênia, quase noiva de Estácio.  Estácio, por índole de coração, e por seu bom caráter, não formulou nem consentiu objeções à atitude do pai; e predispôs-se  à nova afeição fraternal, que parecia vir completar-lhe a vida doméstica. A impressão que teve de Helena foi melhor do que ele podia prever. Era uma linda moça,finamente educada e de inteligência aguda, superior à sua idade. 
                    Houve, como era natural, nos primeiros dias muito acanhamento, mas a familiaridade se fez sem demora, ainda que sem o abandono de irmãos, que se formam junto desde o berço. Em Estácio predominava sempre a surpresa do conhecimento progressivo, e a sua afeição trazia um perfume de enlevo. 
                    Helena captou também, aos poucos, a simpatia dos frequentadores da casa, salvo o Dr. Camargo, que a olhava sempre com o espírito prevenido. D.Úrsula resistia para não se deixar vencer pelas graças da sobrinha; mas teve de ceder de todo depois de uma moléstia grave em que Helena a assistiu como enfermeira dedicada, com solicitude e carinho de mãe.  O reconhecimento de D. Úrsula foi abundante e espontâneo. A primeira vez que saiu do quarto, amparando-a de um lado e do outro, Helena e Estácio  fizeram-na sentar-se em frente a uma janela da sala, que o sobrinho entreabriu para penetrar além da luz, um pouco de ar. D. Úrsula respirou longamente, como se estivesse lavando o pulmão com aquela primeira onda de vida. Depois, segurando as mãos de Helena, que ficara de pé a seu lado, fê-la inclinar a fronte, e imprimiu-lhe um longo beijo, verdadeiramente maternal.  Estácio, aproximara-se; aquela manifestação encheu-o de júbilo. 
                   " Bem merecido beijo", exclamou ele. "Helena foi um anjo em todo esse tempo".
                   " Bem sei", retorquiu D. Úrsula; "foi um verdadeiro anjo, foi mulher, mãe e filha. Obrigada, Helena! Pode ser que a medicina tenha ajudado a cura, mas o principal mérito é só teu". 
                   Helena abraçou a convalescente. 
                   "Estácio", disse esta, "agradece a tua irmã, como eu fiz". 
                    Estácio inclinou-se para Helena, afim de lhe dar-lhe um beijo fraterno de irmão. Não o conseguiu, porque Helena, desviando-se estendeu-lhe sorrindo a mão esquerda, e disse: 
                   " Não foi serviço que merecesse tanta paga; basta-me o aperto de mão e o afeto de todos". 
                   Estácio apertou-lhe a mão e sentiu-a trêmula. Aquele movimento não lhe pareceu exagerado nem descabido; achou-a assim mais bela.  
                   Fosse outro o estado do coração de Estácio, e havia de parecer-lhe exagerada e descabida, tamanha reserva no trato entre irmãos.  E notar-lhe-hia também  com estranheza o tremor da mão. Mas o enlevo prevalecia nele, e não o predispunha para uma análise do sentimento dela e dele. Na verdade, amava-se, como namorados um do outro; e a convivência ajudava o amor, sem que dessem acordo da natureza dessa atração que era idílica, mas não excedia a liberdade de dois irmãos amigos. Estácio notava, é certo, que já não era tão instante o seu amor a Eugênia, e tudo era pretexto para ele ir adiando a declaração de noivado.  Comparava Eugênia e Helena; e parecia-lhe que esta era o tipo da mulher e esposa; a outra era formosa, mas tinha a vaidade de sua beleza, amava-se sobretudo a si mesma no amor que podia inspirar a outrem. "Há cem belezas como aquela", disse ele a Helena, uma vez que esta lhe notara propositadamente a formosura da amiga. E insistia para que ele resolvesse logo o noivado. Estácio prometia, continuava a adiar, mas o seu pensamento era mais ocupado por Helena do que pela futura noiva. E surgia uma razão para preocupa-lo.
                   Surpreendera a irmã entretida na leitura de uma carta, que ela procurou esconder. Suspeitou um namoro; e a suspeita parecia confirmar-se com o procedimento da moça, que de quando em quando saia a cavalo, fazendo-se acompanhar de um escravo, em vez dele, e as vezes às escondidas dele.  Entrou a espreitá-la. E um dia fez-lhe uma alusão ao motivo secreto dos seus passeios. Estava os dois na chácara de casa. A moça não respondeu à indireta.  
                  "Helena", disse ele, "você ama".  
                  A moça estremeceu, e corou vivamente; olhou em volta de si como assustada e pousou as mãos nos ombros de Estácio. Refletiu ela no que disse depois? É duvidoso; mas a voz, que nessa ocasião parecia concentrar-lhe todas as melodias da palavra humana, suspirou lentamente: 
                 "Muito! Muito! Muito!"  
                  Estácio empalideceu. A moça recuou um passo, e, trêmula, pôs o dedo na boca como a impor-lhe silêncio. A vergonha flamejava no seu rosto; Helena deu as costas ao irmão e afastou-se rapidamente. 
                  Pessoa que assistisse à cena teria concluído o verdadeiro sentimento dos dois. Mesmo sem ter ouvido esse e outros diálogos íntimos, compreendera-lhes o estado de alma o padre Melchior, velho capelão e amigo da família. Interviu diretamente para apressar o noivado de Estácio, o qual por fim se decidiu, a instâncias de Helena, solicitada pelo Dr. Camargo, pai de Eugênia. Pouco depois a família do Dr. Camargo teve de fazer uma viagem a Cantagalo, onde residia a madrinha de Eugênia, que adoecera gravemente. Eugênia era das possíveis herdeiras, e havendo outros parentes que assistiam a enferma, convinha-lhe estar o lado desta naqueles dias de crise. Era o que pensava o Dr. Camargo; a filha, porém, só iria indo também o seu noivo.  Estácio não pode levar avante a sua relutância, e partiu. Mas foi só com o corpo; a alma ficou-lhe toda em casa junto de Helena;  e é o que exprimia a efusão d'uma longa carta escrita à irmã. Leu-a o padre Melchior, quis ler também a resposta de Helena, e senhor do segredo confessado e inconfessável dos dois, confiante também no caráter de Helena, promove a sua anuência ao pedido de casamento que lhe fez então uma amigo de mocidade de Estácio, Mendonça,  recém-chegado da Europa. Só faltava a aprovação de Estácio, e com ele contava Mendonça. Mas apenas teve a notícia em Cantagalo, Estácio partiu para o Rio, e ao contrário da esperança de Mendonça, opôs ao noivado tanta displicência de maneiras e tais razões, que o amigo, contra o voto do padre Melchior, contra a declaração de Helena, entendeu retirar o seu pedido. A razão principal, antes pretexto, que opunha Estácio era a existência duma afeição oculta de Helena, e sobre a qual ele a interrogara. Na sua consciência confusa apontavam as dúvidas sobre o motivo dos pais de Helena.  E uma manhã, em que ele, por aturdir-se, saíra a caçar, aconteceu ver justamente Helena,  que saía de uma casa no caminho da Tijuca, a mesma casa desenhada por ela num quadro com que  e presenteara no dia de seu aniversário. O pagem escravo esperava-a com o cavalo a pequena distância. Estava ali, pois, a explicação dos passeios matinais de Helena. Não pode vencer o desejo de ir ele também à casa misteriosa, e uns arranhões sangrentos da mão, ao apoiar-se numa cerca de espinhos, deram-lhe ali logo o pretexto para bater à porta da casa como a pedir água para lavar-se do sangue. Abriu-lha o morador, homem de meia idade, de aspecto pobre, mas gentil, que se prontificou logo em fazer-lhe os curativos e o entreteve em palestra. 
                 O mistério crescia, com o desvanecimento da hipótese de que as visitas de Helena àquela casa  tivessem um intuito de caridade.  Nessa mesma tarde, Estácio, em retribuição a uma carícia efusiva de Helena, tomou do desenho dela e apontou-lhe a casa com um olhar, que exprimia dor, interrogação, e intimativa. A moça nada pode responder, tamanha foi a sua comoção. Recolheu-se a seu quarto, donde não saiu todo esse dia, recusando alimento.  Houve então um conselho de família, com a presença do padre Melchior, e afinal explicou-se o mistério. O morador da casa, Salvador, era  pai de Helena; o reconhecimento desta como filha, por parte do conselheiro Valle, fora um ato de piedosa afeição, na crença de que havia morrido o pai, na verdade só traído pela amante, mãe de Helena, que ao conhecer o conselheiro lhe ocultava o motivo  da ausência de Salvador. 
                   Este, apesar da afeição que tinha à filha, resignava-se a ser tido como morto, preferindo o seu sacrifício ao da felicidade de Helena. Revelara-se mais tarde à filha, e conseguiu com os seus argumentos fazer com que ela não rejeitasse  o reconhecimento testamentário e a parte da herança. Contentava-se com o sentir de longe o seu amor filial, e ter de quando em quando as suas visitas. Obtidas todas as explicações e comprovadas pelas cartas anteriores de Salvador e de Helena, ficou acordado que não mudasse a situação desta; a afeição da família não mudara, pela pessoa de  Helena, e era imprescindível evitar-se o escândalo da revelação, que prejudicava a memória do conselheiro Valle.  
                  E foi o que prevaleceu sobre o sentimento de Estácio, a quem sorria a possibilidade de realizar  o amor, de que tinha enfim a consciência. Helena, porém, não se conformava à ideia de que a pudessem julgar  uma aventureira. Se as afirmações que lhe faziam de que a estima de todas era igual e porventura ainda maior que antes, não lhe permitiam deixar a casa; não fraqueou a sua resolução de deixar-se morrer, para não afrontar a vergonha da situação. Na verdade o que lhe fazia o desespero era a necessidade de continuar a ser tida como irmã de Estácio, a quem ela amava. A morte desejada como solução veio provocada por ela. No delírio da febre, dois nomes volviam frequentemente aos lábios da enferma, o de Estácio e o de seu pai. Pouco antes de fechar para sempre, os olhos dela já volvidos para a eternidade, deitaram um derradeiro olhar para a terra, e foi Estácio que o recebeu, olhar de amor, de saudade e de promessa. 
                  "Ânimo, meu filho!  disse a Estácio o capelão. 
                  " Perdi tudo, padre mestre!" gemeu Estácio. 


O resumo de grandes obras literárias, que tenho feito,  tem como principal objetivo despertar o interesse dos leitores para conhecer a literatura dos maiores escritores de todos os tempos. 
Nicéas Romeo Zanchett 

                


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